
“50 anos de memórias. 20º CFORN – Classe de Fuzileiros”
No dia 1 de maio de 2022, na Escola de Fuzileiros, no ambiente único que é o Museu do Fuzileiro, foi lançado o livro “50 anos de memórias. 20º CFORN – Classe de Fuzileiros”.
Esta obra deverá ser elemento de leitura e análise por todos os fuzileiros pelo contributo que dá para a área da liderança, de que foi mais um exemplo a presença, no eventos, dos formadores mas cuja postura e entendimento do que é ser formador é partilhado, na primeira pessoa, por estes e reconhecido pelos seus alunos de então. Mas também é uma obra relevante pelos relatos de experiências, positivas e menos adequadas, vividas nos Teatros de Operações e no território continental, neste caso, nos momentos conturbados do pós 25 de abril, onde, fruto do momento, os valores aprendidos na formação fizeram toda a diferença.
Como refere o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, no prefácio da obra é afinal destas iniciativas que a História se vai construindo, através do estudo de fontes documentais e materiais, é-o também, como é o caso, através do cruzamento de informações fornecidas pelos protagonistas dos factos que se pretende relatar com veracidade.
E acrescenta que sente orgulho acrescido, como Comandante da Marinha, ao ler, nestes relatos pessoais, a forma indelével como a passagem pela Marinha deixou marcas de respeito e admiração tão fortes para com a instituição e a sua missão e também como esta acolhe e prepara os cidadãos para missões de elevado risco.
Os Fuzileiros da Armada, na sua génese, eram constituídos por equipas para instrução e treino, no manejo da artilharia e dos fuzis, das guarnições das naus da carreira da Índia. Esta obra, em termos operacionais está focada na atividade dos Fuzileiros na Guerra em África, após a sua recriação em 1961, ilustrando, em cada uma das suas páginas, o esforço, a generosidade, a nobreza, o brio, a competência e a dedicação daqueles que envergam a Boina de Azul Ferrete. Os fuzileiros enfrentaram, em África, as agruras de uma Guerra para a qual estavam preparados e treinados intervindo em terra, em zonas ribeirinhas, a partir do mar, de lagos e rios.
“Os Fuzileiros”, estes oficiais da Reserva Naval, naquela fase de elevados desafios estratégicos, onde a vida era a moeda de troca do esforço e a dedicação pela pátria, representaram um fator de rejuvenescimento nas mentalidades e nos comportamentos e permitiram uma abertura cultural, técnico-profissional e até política.
Está escrita, na primeira pessoa, através da pena de quem viveu esse tempo profundamente marcante da sua juventude, durante a qual absorveram a cultura do que é ser Fuzileiro, dos seus formadores e instrutores, a abnegação, o altruísmo, a lealdade e a responsabilidade, transmitem memórias e histórias pitorescas relacionadas com a sua vivência coletiva nos Fuzileiros.
Criaram fortes laços de camaradagem, entre si, que ainda hoje perduram, passados que são 50 anos, em que se conheceram e ao mesmo tempo iniciaram a sua ligação à Marinha. Foi nas matas, serras, escarpas e no lodo, rios e lagos do território português e das então províncias ultramarinas de África, onde prestaram serviço e viveram operações militares reais que cimentaram a amizade, a camaradagem e amor pela sua pátria.
A sua passagem pela Marinha, na generalidade dos casos, representou a primeira experiência de carácter profissional e, quantas vezes, originou as primeiras avaliações e decisões de responsabilidade e risco, semelhantes àquelas com que quotidianamente se vieram a defrontar mais tarde, no exercício de altos cargos públicos, na Marinha ou no mundo empresarial.
Lideraram, ensinaram e relacionaram-se com as populações locais, em harmonia, vivenciaram o processo que conduziu à independência nacional desses Povos irmãos, e, ainda ao serviço da Marinha, foram atores no novo caminho de liberdade civil e política que Portugal decidiu seguir.
E, aqui, voltaram a fazer uso dos valores que receberam dos seus formadores, seja na forma como acolheram os atos de violência contra si perpetrados seja na coragem moral e forte camaradagem, o pensamento enraizado de que ninguém fica para trás, que foi evidenciada ao ser procurada que a humanidade, a justiça e o estado de direito fosse respeitado. Afinal que sentido faria lutar-se contra uma tirania para impor outra? Senti um orgulho enorme pela discrição do “Corte-Real” e pela ação do “Maia de Carvalho”. Que a história não esqueça para não permitirmos que se volte a cometer os mesmos erros.
Orgulho, também, pelo reconhecimento explicitado que a formação que a Marinha nos faculta também contribui para crescermos, fortalecermos os domínios do social, do psicológico, do solidário e de uma maior predisposição para rejeitar o etnocentrismo e os raciocínios estereotipados que abundam nas sociedades, um pouco por todo o lado.
A Associação de Fuzileiros felicita o “motor” deste projeto editorial, o “Chefe de Turma”, Professor Vasconcelos Raposo, por terem ousado partilharem as vossas experiências e aprendizagens.
Um exemplar do livro está disponível na Biblioteca da Associação para leitura.