
UM ENCONTRO DE GERAÇÕES
Há uma dúzia de anos, no Corpo de Fuzileiros, alguém teve a iniciativa de convocar à efetividade do serviço um conjunto de antigos oficiais para um convívio desportivo. A resposta, como se impunha, foi rápida. Lá apareceu um grupo de camaradas que, a par dos seus brilhantes serviços prestados ao serviço dos fuzileiros, transportavam consigo a fama de grandes estrelas do futebol.
Para que os mais novos não se sentissem humilhados por aquelas velhas glórias, estas foram criteriosamente distribuídas pelas duas equipas.
Não há registo do resultado final, mas vamos assumir que foi um empate. Toques de calcanhar, trivelas, desmarcações em profundidade, táticas de 2-1-1, por vezes 3-1 ou mesmo 1-3, houve oportunidade de se espalhar magia naquele recinto de cimento. Com o avançar da hora, o desempate por penaltis teria de acontecer num almoço-convívio. A satisfação espelhada nos rostos dos antigos oficiais naquele regresso à sua casa de sempre – a Escola de Fuzileiros, desde logo fez transparecer a mensagem de que se tratava de algo para repetir.
E repetiu-se, com alguma regularidade.
Com a passagem para o grupo daqueles que gostam de referir “no meu tempo…” daquele que era o grande dinamizador, a atividade esmoreceu, não faltando, contudo, frequentes incentivos para a sua reativação. Foi assim que, uns anos mais tarde, e no desempenho de importantes funções na Associação de Fuzileiros, lá apareceu o convite para um novo encontro.
No dia 29 de novembro do ano transato, no pavilhão gentilmente cedido pelo Clube de Futebol Barreirense, lá se voltaram a encontrar, novos e menos novos, numa emocionante “peladinha”, enquadrados, na bancada, por um friso de treinadores, comentadores desportivos e vídeo-árbitros.
Certamente por defeito da bola, nem sempre as pernas chegavam a horas para receber os passes, e o campo teria uns quantos metros a mais de comprimento. Ainda assim, assistiu-se a grandes momentos desta popular modalidade, com uma mão cheia de golos. Como sempre acontece, lá apareceu uma ou outra lesão, mas sempre autoinfligida, os músculos já recusam a obedecer às ordens do cérebro, e quando o corpo não tem juízo…
No final, foto da praxe e, para memória futura, cada equipa recolheu os três pontos da vitória.
E o melhor estava mesmo guardado para o fim. No restaurante da Associação, reuniu-se uma meia centena de oficiais de várias gerações, numa impressionante demonstração daquilo que é o espírito de fuzileiro. Muitos confessaram que não se viam há uma dezena e mais de anos, e entre uma e outra garfada lá corriam as histórias, com muita saudade e nostalgia à mistura. Os mais novos tiveram oportunidade de conhecer o legado que herdaram, os mais antigos atualizaram-se com o que aprenderam sobre as novas missões dos seus “herdeiros”. A pairar, aquele traço comum de sempre prontos para levar a boina onde for necessário.
A iniciativa renasceu das cinzas, agora do lado da Associação, e a adesão que se verificou será a maior garantia da sua continuidade. A par dos encontros de Destacamentos, Companhias e cursos, cultivar o intergeracional é algo que promove o espírito de corpo, tão próprio dos fuzileiros, e uma missão da Associação. O ponto alto será sempre o Dia do Fuzileiro, mas ao longo do ano, com o pretexto do futebol, de uma prova de botes, de um passeio no campo, de uma visita ao museu ou de qualquer outra iniciativa, estaremos sempre unidos, a mostrar porque chegámos aos 400 anos.
Contra-almirante Luís Miguel de Matos Cortes Picciochi, Sócio n.º 591




